segunda-feira, 23 de maio de 2011

mulher de mim

sobre ser livre
sobre ser sexuada
sobre ter força
sobre transformar a melancolia em poesia
sobre temer
sobre não agüentar
sobre enlouquecer de tanto amar
sobre falar confuso, mas falar
sobre ter coisa na mente
sobre não mentir o que sente

muito bom, melhor mesmo,
melhor que seja na mulher dos outros.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

psico análise

eu colocaria uma boca
no meu inconsciente
instalaria uma corda vocal
e um microfone bem na frente
com ecos no meu coração

para entender de qual substância
é feita meu avesso subterrâneo
minhas sombras subcutâneas
que se recusam a aparecer à luz
mas que mastigam e mascaram
meus porquês, meu vir-a-ser

eu, abandonada à própria sorte
ou ao próprio azar
de nem saber por onde começar
ou ao qual freud perguntar

domingo, 15 de maio de 2011

centro cirúrgico

se suas mãos pudessem
acarinhar meus nervos
por debaixo da pele
por entre o músculo

se mãos apertassem
os átrios do coração
pulsasse sangue
aplacasse coágulos
para grudar a veia
circular o plasma

se mãos amaciassem
o revestimento de alma
da tez da pele
para unificar vísceras
sobre joelhos e pernas

se mãos fincassem
todos os ossos
tanta cartilagem
faria o ombro
suportar o peso
do corpo
todo

e talvez
se morresse
pouco

vive em mim

tem uma poesia zanzando em mim
passeou pela barriga
tênia
solitária

tem uma poesia me transitando
sobe e desce na garganta
perde
dedos
teclas

tem uma poesia comendo em mim
traça aos poucos as cinzas
massas
cerebelos
cabelos

tem uma poesia me bagunçando
cegando os óculos da cara
analfabeta
letrada
canetada

não me permite ler
não me permite escrever
não me permite ser
sem dela saber
o que tem para dizer

tem uma poeta que manda no mim

segunda-feira, 9 de maio de 2011

se quiser beijar apareça
se quiser deitar anoiteça
se quiser entrar aporteça
se quiser hoje vem terça
se quiser por si veja,
mas seja

terça-feira, 3 de maio de 2011

coisas pequeninas
olhadas por uma formiga

odores, calores e Dolores
fazem com que as dores
transformem as flores

um dia-a-dia microscópico
invisível a olho ótico

abre no chão a fenda
enxerga-se o centro da terra

Osama ou Obama
não muda o peso da folha
sobre as costas
sobre um formigo inverno
ou sobre um calor do inferno