terça-feira, 30 de novembro de 2010

dezembro chove?

a noite cheira molhado
pela janela de dezembro

prédios desde nascença
- com raízes de bairro -
crescem retângulos furados
e espiam por seus furos olhos

luzes azuis
nas quadradas janelas
espelham corpos horizontais

tão logo amanhece
corpos verticais
correm atrás
de um Papai Noel em fuga

o que será que dormem?
como será que compram?
onde será que sobram?
quando será que doam?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

oração ao são joão das bolas perdidas

mais poesia porra!
mais porra na poesia!
com prazer porra!
com porra porra!

gole

ritualisticamente
tomei o último café
assim que previ o fim

um gosto leve
de fruta viva
recém despencada

agora que acabou
veio vontade
pouca, é verdade

não há como comprar
o que se doa

doa o que houver
deste último gole do café
agora já frio

a pequena colher
- com o resto líquido -
descansa sobre a pia
sem pires

(as fases da alma
necessitam 
da concretude 
dos rituais)

não há o que fazer
fique onde está
a um passo
desabará pelo mar
formado de lodo

depois da insônia
não despertará
do que não se dorme

sonhos vigilantes
imagens remontadas
filmes conhecidos

passados que te pertenciam
histórias conhecidas
rostos familiares
cheiros regulares

agora é assim
desesperos atrozes
te descaminham
de onde nem sabe
para onde foi ou
para onde vai

domingo, 21 de novembro de 2010

oxi


misi fi

é muita mandinga trazê ocê pra mim


haja vela vermeia na encruzilhada

num presta enterrá santo antônio

terreiro diz que já não vale mais

caboclo afirma que já pegô catimbó


amor de um

quando não tem dois

não há galo, galinha, ou melaço

que desata todo esse nó!

domingo poesia

será que já é a hora de pseudônimo?
será que deixei de nascer de mim?

quando será que o poeta vem?
trabalha em feriado santo?

a palavra brota bruta?
a frase já vem riscada?

neruda escrevia sentado?
drummond batia à máquina?

escrever é do tipo que se aprende?
ou será talento que vem de fábrica?

será que não sou mais eu?
ou torno-me em minhas palavras?

em todo caso assino hoje como Clara.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

post

imagina só
guardo aqui
sem tirar o pó
um postal
escrito lá
para você
lá de longe
você noutra
eu na tua


nunca leu
nunca viu
nem sabe
nem eu sei
quando foi
que o amor
pelo mapa
se perdeu

um postal
sem endereço
sem leitor
colado agora
no mural
no avesso
só a cola

ninguém vê
teu texto
tuas lágrimas
só vêem
tuas terras
fotografadas
ao longe
numa Itália
poente e só.
prometo que vou estudar
depois dessa poesia mãe.

só mais uma tá?
amigos parindo livros
outros linguajando nenéns
outros com uma floresta de árvores

uns replantando a colheita

todo mundo regando, junto.

coisa bonita essa crescência

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bamba

Sujei no samba meu novo sapato

agora com que cara vou pro trabalho?


Foi muvuca, vuco-vuco, esfrega-esfrega

umas branca

umas preta

uns bamba

Umas geladas, suor, empurra-empurra

uns pisões

uns amassões

uns chacoalha


Foi cantoria, foi roda de causo

tinha amigo, tinha hómi, tinha caso

Pandeiro, surdo,

cuíca e política

Sete corda, atabaque,

Agogô e amor


Ai ai ai quanta euforia.

Se sua sola dissesse,

meu pé nunca esquecia.


e o chefe nem se abatia.