quarta-feira, 23 de março de 2011

menina de mim

senti-me dona de mim
quando andei no teleférico

a cadeira sozinha
de uma pessoa só
flutuando no ar
silêncios de árvore
nas alturas de minha criancice

fiz juz à confiança
de que cuidava de mim
de que podia ser só
a paz e o silêncio de só ser
ser para ver vento soprar
sentir o mundo ir e voltar
os pensamentos do cabelo voar

dia dos hómi

cê me bagunça os cabelo
chacoaia as idéia
penso tudo novo
querendo as coisa véia
de hómi e muié
que nem minha mãe queria
e eu nem sabia
que de tudo eu fazia
pra te ter todos os dias
dançando na minha cozinha
sambando na pontinha
alegrando as piadinhas
nas minhas zoreias
tomadas de seu riso
de menino liso
que no fim do dia
abre a porteira
cheira à hómi
e me pega descalço
e me mostra um altar
me põe devota
de ti
de mim
de nós
para que durem
os nossos nós
e assim se torçam
as cordas
em nós

terça-feira, 22 de março de 2011

gravura de si mesma
grava por si
inscrições rupestres
num papel terrestre
pra ver de longe sua alma
de perto sua aura

quarta-feira, 9 de março de 2011

dia das muié

preciso de vc para abrir meu vidro de palmito
não porque eu não saiba ou não tenha muque
mas porque é vc que eu quero na vida da cozinha minha

culpe a desculpa

desculpe por agradar eu tentar
desculpe por menos eu ser
desculpe por falar não saber
desculpe por demais falar
desculpe da angústia tomar
desculpe a lágrima lograr
desculpe por não silenciar
desculpe pela alma procurar
e assim esquecer
dos corpos encontrar

desculpe o tempo perder
desculpe o desculpar

Manoel de barro

os rios de ontem –
por não se suportarem
mais marginais –
se subiram sobre as pontes
se sujaram de limpeza

tomaram a memória da cidade
para que ela se lembre árvore
e os meninos musgos

para que se pesquem paralelepípedos
nos alagamentos

para que se entremeiem oxigênio
nas correntes
se é que ainda sobram
nesses sapos narizes!

sexta-feira, 4 de março de 2011

sua doçura me desarma
seu olhar me comove
sua voz me escorre
sua palavra desaloja

um sentimetalismo brutal
invade meu espírito,
coloca a vida em fôrmas
de sonetos líricos

quarta-feira, 2 de março de 2011

paz burguesa

há regularidades
de sala de jantar
de noivos a esperar

há cotidianidades
de cafés da manhã
de roupas passadas
surpresas futuras
espontaneidades,
embora roubadas

mas há a segurança
de se saber
como e qual vinho tomar
e sobre qual filho acarinhar

terça-feira, 1 de março de 2011

adorme-o-ser

Adormecer em seus braços
é desnozar os laços
dos meus vãos esgarçados
é preencher os espaços
de um mundo escasso

descartar os bagaços
para nascer fruto
e escorrer suco
pelos fundos sulcos
em minha alma cavados

são pés
são dedos
agora calçados