domingo, 30 de novembro de 2008

je suis

já me experimentei coisa
já me experimentei gente
já me dupliquei em mais
já saí e voltei de mim
já não me pertenci
já me agarrei ferrenho
já me vi na lata do lixo
já me vi em berço de ouro
já me envaideci
já me encarneci
já me ri
jamais me vi
tão de perto assim.

o sol é em si,
sem dó.

deseixo

nunca entendi o que vim fazer aqui
dou sentido ao meu resgate
com cada palavra, escrita, dita, dançada e tocada
que desconcretiza esta cadeira, esta mão, esses olhos
ao aprofundar a fenda poética
que me faz humano

não quero perder o bicho que sou
que urge no corpo, condutor polarizado de minha energia
quentura, suor, sangue e víscera rósea
ornitorrinco esquisito, fragmentado e descompreendido que me torno
com pena, bico e nadadeira
correndo em água para o nada por cansaço do tudo

deixo-me aqui
sem eixo

Cantar

Cantava por todos os cantos
Porém nunca achava quem encantava
O pássaro do desdém
pousou com ousadia e ficou

Cantava aos mais infames
Cujo desencanto tornou coração em pedra,
Catei a flor da sensibilidade e murchou
Tentativa estéril em solo que quer infértil

No canto certo,
canto e encanto o meu mundo desenganado.

à Piaf

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

roupão sono. exaustão
energia esvai. esforço acorda
parece que escorri pelo ralo
ainda assim posso ser o mais bonito

Dedico às amigas issas

Em meio às Bardot(s) e Ana(s) que há em todas nós
Construo, destruo e reconstruo a mulher que faço de mim
Nas ladeiras de Santa Thereza, pudemos nos ouvir profanas
De puta que desejamos de nossas necessidades mundanas

O coração amornado pelo melhor chá de camomila
Que anoitece a dor, que tece ternura do olhar, no cuidar
Às vezes nós mesmas nos enchemos de ser mulherzinhas e somos então crianças
Entregues à brincadeira, que não faz fronteira do eu com você

Só agradeço por poder viver esse intenso amor
De pessoa em encontros caminhos
Criação de poesia com seis mãos
Na paz, na dor, mas sempre com flor


Lenine, Seu Jorge e Ney, fica para outro dia....

sem

Tenho temor de perder o amor
Por esta vida que já sei de cór
Não vivo sem o seu fervor,
embora já sinta muita dor

Quando chego, já te espero de ontem
Apesar de amanhã já esquecer de hoje

Pudera domar a fera,
que longe de mim impera

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

na lida do diaque me consome,que nem te liga.quem sabe aprendo um dia.
mundo povoado esse meu,estímulos confusos e exagerados,por pura necessidade:que é viva!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

high verso tech

Quando eu era criança não tinha computador (cara de espanto!)
Quando adolescente não tinha internet (óóóóóó!), nem blog

Quem inventou essa máquina
Inventou o tempo

Falou que ia passar
Eu não acreditei

Renasço real no virtual
Espremendo-me em atual

NÃO

SOU VERSO
POR INCOMPETÊNCIA DE PROSA

SOU SÓ
POR INAPTIDÃO DE JUNTO

SOU CRIANÇA
POR HAVER ESQUECIDO CRESCIDO

SOU COMILÃO
POR DESCONTROLE DA GULA

SOU REMÉDIO
POR NÃO HAVER PREVENÇÃO

SOU ATRASO
POR DESISTIR DO TEMPO

SOU VIOLÊNCIA
POR DESAPRENDER CARINHO

SOU EGOCENTRISMO
POR ESQUECER DO OUTRO

SOU DISFARCE
POR PURA DOR DE SER-ME

SOU MEU
POR NÃO CONSEGUIR SEU

DESCREVO A FALÊNCIA
PARA ENCONTRAR DECÊNCIA
EM TANTA INCOERÊNCIA.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

algo entre prática lesa e lépida
pra você.
pra mim
nem sempre sou assim
prefiro repouso no jardim

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CEM DIAS

Um homem no metrô cuspiu no chão, para todo mundo ver
Transparentes transeuntes no passeio
A greve dos bancários anuncia chove chuva, que toma o espaço em música
O garçom do café é o homem mais lindo que já vi e desejei

Tem dia que é só mais um depois do outro

Rock bem alto no fone de ouvido
Para suportar o tédio do que repete, chato no cotidiano
O olho vê o que se sente
Em combate à anestesia imposta do viver

Vem dia,

Antes da chegada da noite fria

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

MONÓLOGO


Platão elucubrou
Sócrates meteu-lhe um gol

Freud interpetrou
Lacan interditou

Nietzsche humanizou
Moreno encenou

Meu ser-aí se encantou

Criatividade encaixotada

Dentro da caixa havia um líquido,
escorria pelas frestas,
cortava caminho

Tomava a forma sem forma de fora,
enquadrava a forma dura de dentro.

O tempo era seu aliado e inimigo.
Quanto mais resolvesse correr mais escorria,
mas mais livre brotava.

Planta, azul, tatu
e nova forma tomava,
ora mole ora dura.

Se livre, inútil.
Quem sabe pra quem?
Ninguém.

Se alguém, presa
e encomendada.

domingo, 9 de novembro de 2008

O tratado que escrevo se dissolve no segundo seguinte
A teoria que explica a prática se desatualiza a cada nova ação
Minha ciência me confunde a cada tentativa explicação

A compreensão já nasce desentendimento pelo descompasso de tempo
Entre o que é arrastado e o vento

Professor cristaliza o que tenta significado
Quando versa oral o estratagema que exemplifica no poema
No entanto logo simplifica o que se sente de complicado

Guardo meu não saber com orgulho e certo descaso
mergulhei hoje
mergulhei fundo
tão fundo que dói
tão dói que rói

rói de amor e de flor
flor de pântano
pântano com raiz
raiz que se foi
foi-se para o centro da terra
lá eu acabei
acabei de começar

Desapreço

A cada passo me pergunto se certo ou descaminho
A cada erro me pergunto se destino ou cegueira
A cada olho uma visão

Porque em cada coração, em cada tempo, em cada lugar
uma desilusão
como alusão apológica aos que virão

Surge como verso avesso na contra-mão
Quem escreve já desacredita
Deixa a solução para quem fica
Curtir uma tristezinha, é bom
Entrar na euforia, eu gosto
Sentir o sol do dia, preciso

Fala para a dona Terezinha
que hoje é dia
de bolinha de sabão!

sábado, 8 de novembro de 2008

Para haver saudade, lembrança
Para haver lembrança, que tenha acontecido
Para ter acontecido, ter acabado

Por isso despedimos
Pessoas: se eternizam
Em cada areia dessa praia
o outro erudição, eu criação
o outro acúmulo, eu transbordo
o outro eterno, eu instantâneo
o outro etéreo, eu consistência
o outro avesso, eu destempero

o outro sou eu

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

pitadas

O que há de Oslo em Alagoas?
O que há de poesia na prosa?
O que há de dinastia na anarquia?
O que há de democracia na alforria?
O que há de matemática na gramática?
O que há de tântrico no cosmo?
O que há sereno no trânsito?
O que há de Augusta na Cidade Jardim?
O que há de começo no fim?
O que há dele nela?

O que há de eu em mim?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

HÁ BELEZA NAS BOCAS ENTRE ABERTAS

NA FIGURA LÉPIDA FORMADA AO ACASO

NO DESENHO MINOTAURO QUE SABE EXATA FORÇA

NO SOM BRINQUEDO DA MELODIA QUE IMAGINAMOS JUNTOS

NO SOL LUZ AMARELADA ANUNCIANDO O POENTE

NA DESCRENÇA DISCRETA DA VIDA VAGA

NA.........N ..........
HÁ BELEZA BEM AQUI!

Textículo

O bebê precisa da mãe. Dizem alguns que a chupeta, dedo, mamadeira, são o substituto que ele arranja para a mãe, que de pele, vai ficando cada vez mais ausente. O mundo cada vez mais presente. Como um primata, o bebê humano é o mamífero que mais tempo demora para independer. Parecido com ele somente nossos primos distantes, os chimpanzés. O mundo aos poucos vai tratando de cuidar como pode e os humanos nele se agarram da mesma forma. Cada um pode de um jeito. Sabe que o mundo por vezes não trata seus humanos lá aquelas coisas, condição recíproca dos humanos para com o mundo. Pensei tudo isso para dizer que hoje me deparei com um homem sem mundo, deitado na mureta do supermercado, dormindo ao sol chupando dedo. Tive vontade de mãe por vê-lo vontade de filho.

sobre os anos

Nasci quando ouvi o tirlintar dos seus quadris,
quando logo olhou para mim,
acariciou com os olhos,
fez-se presença no ar,
com todo o peso do tamanho exato do afeto bom.

Nasci mais uma vez,
como nos últimos anos tenho feito,
a cada morte, petit ou grand,
bleu ou blanc
no espaço entre as presenças e ausências.

Nasci como pseudônimo,
rascunho esboçado em palavras, na superfície delas,
com ligeira melancolia aquarelável, diluível,
nos dias-noites,
é nas legendas que sobrevivo....
Traduzindo-me.

Perdão, obrigada e para você também.