quinta-feira, 30 de setembro de 2010

pelo poro

Conheço seu antebraço

mais do que você pensa

Acordo seus pelos

pelo sabor de uma vida

Inundo sua quarta-feira

pra parar de bobeira

Visto ao contrário a camisa

para ver de perto seus poros


Embalo os cheiros

Envergo as noites

Chovo a cidade


Só pra mostrar que sei

mesmo que só tenha ainda

o sabor do saberei.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

pela pele

Sobre a pele, inventário de cicatrizes

Sobre o colo, constelação de pintas

Sobre as ancas, tilintar de quadris

Sob os pés, geografias psicológicas

Sob a cabeça, espremidos pensamentos

Sob a guela, abafadas lutas

Sob o peito, coração líquido

Sob as veias, rios de sonhos

Sobre o mundo, giros.
Sobre corpos, nascem.

domingo, 19 de setembro de 2010

guarda roupa

Engavetei tudo.
Etiquetei as letras
Dobrei os discos
Fracionei as blusas
Encabidei vestidos
Sacrifiquei calcinhas
Pendurei as ancas
Troquei as calças
Emaranhei as mangas
Tranquei colares
Misturei os brincos
Vesti as alças.

No armário, ao fundo,
o par de meias ainda me olha.
Não sei mais que verbo andar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

diz-me que tenho uma casa
cante-me a nova música
ponha-me no colo e sussurre
ria-me ao mostrar o giro do mundo
conte-me sobre o verão quente
leia-me um trecho inusitado
faz-me um sonho
faz-se junto

venha-me ao ventre
vem contente
aqui tem um monte de gente!


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vinis

No toca discos do papai reativo o primeiro disco de amor, os primeiros rocks juvenis e a coleção do antigo namorado.
Num domingo qualquer de pais e mães, em casas com tempos parados e ares de berço.
Os afetos aqui analógicos, se fixam. Retrocedem a tecnologia.
A cada passo pra frente sinto que posso ir mais e mais pra trás.
Esse é o dia em que a vitrola tocou e retocou as paredes das minhas reprises.
Enquanto permanecem na sala esses homens bases de minhas marquises.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

habeas corpus

sou testemunha do que o corpo nos faz
sou cúmplice dos nossos nós
sou vítima de nossos próprios réus
sou acusação sempre que fala meu coração.
abro mão de minha defesa:
"meu corpo é testemunha do bem que me faz"