solitária noite
adentra muros interiores
cega o olho urbano de fumaça
retorna pontes atravessando o vazio
espelha-me em mim
a solitude presença das ausências
esburaca o asfalto
de poucas ruas e carros
madruga o ar parado
lampejos de sono com insônia
chopin me emociona
não posso mais noite escura
o avesso do meu dia é tua grande boca vazia
vadio, de dentro da camisola antiga
divago sobre a morada da lua
a cortina do sol
se a nuvem flutua
viúva de todas as mortes
enegrece o exagero de luz
ofusca meu ver demais
me cansa por andarilhar atrás
já fui criança
teu negro hoje
me faz crescer a sós
e só
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
petit mort
tua língua já canta hora extra na vagina
tuas unhas ainda se enfiam nos cabelos
teu pau sonha com minha ordenha
tá osso
já tá pele e osso esse roçar
tua pele lixa meu corpo maltrapilho
tardou esse meter sem trepar
tardou de acabar
jogar as cinzas para debaixo dos lábios e glandes
teus pelos que se entalem no desejo
e assim morremos antes
limpo-te poro a poro
tuas sobras, salivas
tua porra toda
da minha puta existência
tuas unhas ainda se enfiam nos cabelos
teu pau sonha com minha ordenha
tá osso
já tá pele e osso esse roçar
tua pele lixa meu corpo maltrapilho
tardou esse meter sem trepar
tardou de acabar
jogar as cinzas para debaixo dos lábios e glandes
teus pelos que se entalem no desejo
e assim morremos antes
limpo-te poro a poro
tuas sobras, salivas
tua porra toda
da minha puta existência
domingo, 9 de outubro de 2016
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
ssshhhhh
luzes
abajur
sombram
corpos
afogados
rasgados
pedaços
inteiros
aos pés
deitados
cheiro
palavra
palavrões
pulmões
vulva
aos litros
coração
velocímetros
calças vazias
mãos chulas
peitos saúdam seios
bundas duram tempo
quadris molengos
suspiro
púbis doída
sacro louco
imagem epitelial
mapa sensorial
pescoço gemente
dentes entre gente
ereções
vastidão
ofegam gozo
entopem sêmen
carótida vibra
contração
expulsão
língua nua
olhos poucos
nuca farta
enfartas
costas
tantas
pelos
à boca
aberta
oca
orelhas
arrepio
vadios
quente
mas frio
coxas
balançam
e danças
e cama
e chão
e manchas
alma
franja
têmpora
tanta sede
transa
e encontra
gosto
na gente
abajur
sombram
corpos
afogados
rasgados
pedaços
inteiros
aos pés
deitados
cheiro
palavra
palavrões
pulmões
vulva
aos litros
coração
velocímetros
calças vazias
mãos chulas
peitos saúdam seios
bundas duram tempo
quadris molengos
suspiro
púbis doída
sacro louco
imagem epitelial
mapa sensorial
pescoço gemente
dentes entre gente
ereções
vastidão
ofegam gozo
entopem sêmen
carótida vibra
contração
expulsão
língua nua
olhos poucos
nuca farta
enfartas
costas
tantas
pelos
à boca
aberta
oca
orelhas
arrepio
vadios
quente
mas frio
coxas
balançam
e danças
e cama
e chão
e manchas
alma
franja
têmpora
tanta sede
transa
e encontra
gosto
na gente
domingo, 4 de setembro de 2016
eu amo
eu amo o amar do meu amor.
é um metaamor ter esse amor como meta.
e a cacofonia amorosa é a cacafonice intrínseca do amor.
o resto é amor amador.
é um metaamor ter esse amor como meta.
e a cacofonia amorosa é a cacafonice intrínseca do amor.
o resto é amor amador.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Nessa cidade Hora da Saudade
rios amorfos cortam seivas secas
Banham de lembranças
fins da tarde vazios de vento
Rochas encharcadas por milênios
esperam leitos molhados
Águas paradas se movem
entre entranhas de peixes-jovens
Quando se molham meninos
grudam-se roupas nas coxas
O abocanhar da noite
com luas mínguas
Sorriem línguas com saudade do futuro-ontem,
passado-homem.
rios amorfos cortam seivas secas
Banham de lembranças
fins da tarde vazios de vento
Rochas encharcadas por milênios
esperam leitos molhados
Águas paradas se movem
entre entranhas de peixes-jovens
Quando se molham meninos
grudam-se roupas nas coxas
O abocanhar da noite
com luas mínguas
Sorriem línguas com saudade do futuro-ontem,
passado-homem.
quarta-feira, 13 de abril de 2016
a felicidade marcada no meu plano genético
encaixa os pares do meu cariótipo
completa meu X com seu Y
junta recessivos
expressa meus fenótipos mais desejados pela espécie humana
minha epigenética cotidiana
assentada em absolutamente todas as células do que corre em minhas veias
minha esperança antecipada de uma vida viva sem saber onde e quando vai acabar
e não quero saber, não me contem
quero apenas cumprir minha herança
que agora só pode ser ao teu lado
colando os tijolinhos da sua missão
pois agora essa é a minha missão
cumpramos. e só.
encaixa os pares do meu cariótipo
completa meu X com seu Y
junta recessivos
expressa meus fenótipos mais desejados pela espécie humana
minha epigenética cotidiana
assentada em absolutamente todas as células do que corre em minhas veias
minha esperança antecipada de uma vida viva sem saber onde e quando vai acabar
e não quero saber, não me contem
quero apenas cumprir minha herança
que agora só pode ser ao teu lado
colando os tijolinhos da sua missão
pois agora essa é a minha missão
cumpramos. e só.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
CIDADE
a plataforma de minha cartografia íntima,
se faz de atéia e me recolhe em teus buracos tímidos.
abarca meus planos e atrasa minha praia.
em teus trânsitos desumanos me arreia a esperança.
meus lugares, fazeres, quereres e saudades se enraizam em teu solo.
te insisto, mesmo quando impermeável teu asfalto.
afinal acolhe meus subterrâneos infinitos em trilhos, estações e comunicações.
és tão imperfeita e por isso, esnobes, falam de ti.
não te deixam nunca, mas te descuidam sim.
tuas elites confinadas e condominadas te exploram, te secam à luz do dia.
tuas perifas madrugam e te percorrem anônimas e atônitas com o valor de tuas tarifas.
teus meninos se revoltam a cada dia
para te exigir que lhes cumpram os sonhos.
de um caminho menos sem saída, menos abandonado,
aos que transitam amorcegados e desgarrados de tua vida e vora-cidade.
tuas padocas, botecos e PF's,
sempre me nutriram de tão boa gente.
os kilômetros de papo batido me formaram mais que os livros.
tenho tangido forças para te tomar de bicicletas,
para amansar selvagens e teimosos automóveis.
meninas de skate te desafiam e divertem praças e vãos. E vem e vão.
amigos te evadem e outros te tomam de permanente passagem.
para mim tu és mulher.
como sou eu.
uma fusão eu e você. uma grande confusão.
és meu onde. és meu como. és minha gente.
contradita. hoje fica velha e cada dia coisa nova. hoje é você que aniversaria.
preciso dizer de meu orgulho.
pois põe meu coração sempre em barulho.
meus motivos de amor não cabem nesse rascunho.
se faz de atéia e me recolhe em teus buracos tímidos.
abarca meus planos e atrasa minha praia.
em teus trânsitos desumanos me arreia a esperança.
meus lugares, fazeres, quereres e saudades se enraizam em teu solo.
te insisto, mesmo quando impermeável teu asfalto.
afinal acolhe meus subterrâneos infinitos em trilhos, estações e comunicações.
és tão imperfeita e por isso, esnobes, falam de ti.
não te deixam nunca, mas te descuidam sim.
tuas elites confinadas e condominadas te exploram, te secam à luz do dia.
tuas perifas madrugam e te percorrem anônimas e atônitas com o valor de tuas tarifas.
teus meninos se revoltam a cada dia
para te exigir que lhes cumpram os sonhos.
de um caminho menos sem saída, menos abandonado,
aos que transitam amorcegados e desgarrados de tua vida e vora-cidade.
tuas padocas, botecos e PF's,
sempre me nutriram de tão boa gente.
os kilômetros de papo batido me formaram mais que os livros.
tenho tangido forças para te tomar de bicicletas,
para amansar selvagens e teimosos automóveis.
meninas de skate te desafiam e divertem praças e vãos. E vem e vão.
amigos te evadem e outros te tomam de permanente passagem.
para mim tu és mulher.
como sou eu.
uma fusão eu e você. uma grande confusão.
és meu onde. és meu como. és minha gente.
contradita. hoje fica velha e cada dia coisa nova. hoje é você que aniversaria.
preciso dizer de meu orgulho.
pois põe meu coração sempre em barulho.
meus motivos de amor não cabem nesse rascunho.
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procura-se alguém(ns) para:
compartilhamento existencial
em compartimento imobiliário conjunto ou individual
de posição política parecida
para entornar posições sexuais preferidas
sem conta conjunta
para quem sabe juntar os panos de bunda
emparelhar escovas de dentes
dividir intimidades indecentes
quiçá produzir descendentes
trocar líquidos mucosos e epiteliais
salivas e bactérias naturais
emanar afetos matinais
jogar conversa fora
bater papo pra dentro
sorrisos e risos
de piadas e desgraças
mesmo que sem nenhuma graça
para disposição mista de gavetas
com meias furadas e calcinhas velhas
contato íntimo, pessoal e intransferível
de segunda a sexta
e de sexta a domingo
incluindo mercado e feira
dia santo e feriado
com ou sem comunhão de bens
mas sussurrar quente no ouvido 'meu bem'
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quiçá produzir descendentes
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salivas e bactérias naturais
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jogar conversa fora
bater papo pra dentro
sorrisos e risos
de piadas e desgraças
mesmo que sem nenhuma graça
para disposição mista de gavetas
com meias furadas e calcinhas velhas
contato íntimo, pessoal e intransferível
de segunda a sexta
e de sexta a domingo
incluindo mercado e feira
dia santo e feriado
com ou sem comunhão de bens
mas sussurrar quente no ouvido 'meu bem'
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Vôos
Vou ver a rua.
Ver se tem sol ou chuva.
O quanto de lua.
Vou ver as caras das gentes,
das casas com porta da frente.
Vou ouvir e fingir que ando vazia.
Vou andar e fugir das noites mal caídas.
Vou abrir a porta do meio da rua.
Vou fechar a janela de nuvens nuas.
Vou voar um vôo de lufadas de vento.
Vou de ar seco.
Vou, apesar de não sei o que sou.
Sou e voo.
Ver se tem sol ou chuva.
O quanto de lua.
Vou ver as caras das gentes,
das casas com porta da frente.
Vou ouvir e fingir que ando vazia.
Vou andar e fugir das noites mal caídas.
Vou abrir a porta do meio da rua.
Vou fechar a janela de nuvens nuas.
Vou voar um vôo de lufadas de vento.
Vou de ar seco.
Vou, apesar de não sei o que sou.
Sou e voo.
terça-feira, 25 de agosto de 2015
COMIDA
- Filho olhe as palavras que temos para o jantar.
- É dessas que você tem fome?
- Tua fome se cura com palavra cozida ou frita?
- Toma aqui essa palavra que você nunca experimentou.
- Gostou?
- Se cair no chão filho, a palavra fica suja e não devemos mais comê-la, para não ficarmos boca-suja. Pegamos palavra nova.
- Também não arranque a palavra dos outros. Era dele filho, para a fome dele.
- Quando quiser palavras aprenda a pegá-las. Se não conhecer o que é pergunte a alguém.
- Dá muito trabalho nutrir e criar palavras filho. Sustentá-las pode valer uma vida inteira.
- Precisamos das palavras para viver filho. São elas que matam nossa fome, nos colocam na mesa frente a frente, todos os dias com elas entre os dentes da gente.
- É dessas que você tem fome?
- Tua fome se cura com palavra cozida ou frita?
- Toma aqui essa palavra que você nunca experimentou.
- Gostou?
- Se cair no chão filho, a palavra fica suja e não devemos mais comê-la, para não ficarmos boca-suja. Pegamos palavra nova.
- Também não arranque a palavra dos outros. Era dele filho, para a fome dele.
- Quando quiser palavras aprenda a pegá-las. Se não conhecer o que é pergunte a alguém.
- Dá muito trabalho nutrir e criar palavras filho. Sustentá-las pode valer uma vida inteira.
- Precisamos das palavras para viver filho. São elas que matam nossa fome, nos colocam na mesa frente a frente, todos os dias com elas entre os dentes da gente.
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Falácia
Eu falo alto
Eu falo sozinha
Eu falo com estranhos
Eu falo o que não deve
Eu não falo o que deve
Eu não falo os plural
Eu falo gíria pra carai
Eu falo desconversando
Eu falo demais
Eu falo até quando escuto
Eu falo mudo
Eu falo escrevendo
Eu falo de boca cheia
Quando trepo não sei se falo
Eu não falo brigada
Eu falo brigando
Eu falo grosso
Eu falo também em silêncio
Freud ainda fala
que um dia acreditei
que perdi meu falo
e que invejo teu falo.
Eu falo sozinha
Eu falo com estranhos
Eu falo o que não deve
Eu não falo o que deve
Eu não falo os plural
Eu falo gíria pra carai
Eu falo desconversando
Eu falo demais
Eu falo até quando escuto
Eu falo mudo
Eu falo escrevendo
Eu falo de boca cheia
Quando trepo não sei se falo
Eu não falo brigada
Eu falo brigando
Eu falo grosso
Eu falo também em silêncio
Freud ainda fala
que um dia acreditei
que perdi meu falo
e que invejo teu falo.
terça-feira, 10 de junho de 2014
Dia de Faxina
Largar os ossos ao sol.
Deixar as peles embrulhar as cicatrizes mínimas.
Pendurar os ombros nas nuvens,
até que uma chuva lave as sujeiras descalças de pés,
e descaminhos,
embora esperançosos de chão
e grama depois do orvalho.
Descansais ovários meninos.
Tranquilos, em ventres úmidos. Únicos.
Porém não sozinhos,
apenas vivos,
não santos.
Deixar as peles embrulhar as cicatrizes mínimas.
Pendurar os ombros nas nuvens,
até que uma chuva lave as sujeiras descalças de pés,
e descaminhos,
embora esperançosos de chão
e grama depois do orvalho.
Descansais ovários meninos.
Tranquilos, em ventres úmidos. Únicos.
Porém não sozinhos,
apenas vivos,
não santos.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Pari é bem aqui
pari.
pari comprido, mas tudo muito rápido.
quando ela disse ‘dilatou’
fiz umas forças berrentas
e o rebento, escorregou, melento, lindo
e também berrento.
pari doído, demorou de doer essa dor.
achei que ia me parir ao meio.
achei que ia descolar meu pedaço-você.
e não é que era esse o destino da dor!
pari contraindo em ritmos.
muito claro o silêncio e a cor.
um corpo dividido entre você
e a lua cheia que minguava arrebentaDORa.
pari, pari mais que égua prenha.
mesmo que um passado de bebê cesáreo,
esterilizado, limpo e quieto.
virei bicho de quatro, esgoelado.
encontrei uma fêmea
de seleção natural pelas forças.
mesmo não sendo de ancas largas.
pari, me abri, abri um bocão.
abri bem no meio do corpo
abri o que sempre me pediram pra fechar.
pari pelada e pari peluda.
arreganhei no meio para ele sair.
soltei os nós, os sós, a voz
para o bebê sair gostoso
líquido, vivo
e se abrir também,
lento e amoroso
para essa vida daqui.
puta que pariu!
eu pari mais que todas as putas do mundo
paridas juntas.
pari pelas santas, pelas freiras
arrancando o medo, a vergonha
de mostrar a bunda.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
mundo de um homem só
Cada um cuida da sua fome
Cada um cuida da sua cria
Cada um mora no seu retângulo
Cada um cobra seu feriado
Cada um reclama do seu trânsito
Cada um ama apenas e somente o seu bem próximo
Cada um cuida do seu bem próprio
Cada um cura seu bandaid
Cada cura com seu cada cú
Assim caminha o mundo pra tu?
segunda-feira, 7 de maio de 2012
lunar
a terra de sementes tão brilhantes
me plantou uma lua gigante
de luz azul-cinza
dentro de uma barriga
de arrancar a cinta
adubo-me de verde green
quando misturas de runs com gins
florescem noites e noites redondas
de quenturas do dentro do mim
de redondismos
noites
linduras
cores
copas
luzes
faça-se assim -
eu, você, tu e mim
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Rita dura dita China
Prenderam a Rita Lee
Soltaram a ditadura
sem dentadura
Ditadura, dentadura
made in China?
made in China?
Rita Lee proíbe
que a dita dure
Dá com a língua nos dentes
e mostra a made in china
dentadura
Rapadura
Quebra os dente?
E é onde made?
Deram a ritalina à Rita Lee
Pra ver se ela
fecha a boca do Brasil
e não dá mais
c’os dente na China
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Qual a sua graça?
nem tão pobre
nem tão podre
nem tão gênio
nem humilde
nem tão nobre
pouco vil
pouco cio
sem maestria
nem apoteose
nem estripolia
medíocre sem medida
ramela na medida
vem sem tom
nem vaidade
pelos pelos da canela
sal à gosto
cachos à tira-gosto
nem mal-humor
nem desaforo
muita segunda-feira
muito sonho nas venta
pensa que imita sereia
afazeres moribundos
panos desumanos
mãos desinfetadas
um tanto
um tanto de gente
parece mais gente
que a gente
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
um tempo, um intento
Não desejo um feliz ano novo,
posso desejar apenas você feliz,
e felicidade é um treco muito diverso, singular e até esquisito às vezes.
Pois um ano é apenas um intervalo de tempo, uma convenção,
e que ainda virá.
Desejo tantas realizações ou não realizações,
porém desejo mesmo mais tempo com o que queira fazer.
Que seja inútil.
Que seja nada.
Que perca tempo ouvindo músicas repetidas que mais gosta.
Músicas bregas, músicas de amor e de dor de cotovelo.
Que possa dormir quantas vezes quiser até o sono acabar.
Que sofra de insônia se necessário.
Que durma pouco se bem acompanhado,
e quando sentir sono no dia seguinte,
que sofra de lembrança.
Que ande na chuva,
que perceba o quanto as plantas cresceram,
que experimente novos grãos,
que veja mais detalhes de sua paisagem.
Que ouça histórias da sua tia anciã,
regado de bolo de fubá quente e café.
Que gaste tempo jogando pedrinha no lago,
que encha bexiga com as crianças,
e que ganhe uma gargalhada na grama.
Que possa sentir-se só no sofá,
olhando o vento chacoalhar árvores pela janela.
Que possa rir,
sempre que o guarda-chuva quebrar.
Que compre muito menos,
pois coisas são só coisas,
e o mundo já não pode suportar tanto lixo e inutilidades de coisa.
Que ganhe uma mala de roupas lindas,
da sua prima que engordou ou emagreceu.
E que se decepcione,
mas somente o quanto puder amar.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
papo noel
enfornado no cetim roto
envolvido no meio do povo
papai noel, vestido de coca cola
não estava de sunga
mas tocava zabumba
e o pernil assando a 200 no forno
e eu deseformando a 300
hemisfério sul, véi, sul, véi!
verão e poco dinheiro no bolso
o banco faz "neve" cair
never, véi, never, véi!
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
dois mil novecentos e bolinha
posso misturar meus discos nos seus?
prometo deixar caetano encoxando a nana
você bagunçando minha coleção do chico
preparado para o álbum branco dos beatles?
o disquinho rodando devagar...
a gente mostra o vinil aos nossos netinhos
afinal um dia a gente fica velhinho
tocando o bolachão com chiadinho.
sábado, 9 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
roma ao contrário
o amor é uma ameaça
o amor é uma amarra
o amor que venceu
o amor que venceu
o amor que me roeu
o amor que me roubou
o amor que me doeu
o amor fez algazarra
o amor que nunca amara
o amor que amei de mim
o amor amor demais
o amor desparafusou
o amor de carne viva
o amor pegou de jeito
o amor da minha vida
o amor que põe viva
o amor dependente
o amor inconseqüente
o amor come minha boca
o amor me arranca os dentes
o amor esse sou eu
o amor, que sou eu?
poema ausente
ainda não sabes
mas emprestou seus olhos
para eu ver o mundo
em verdes óleos
assim ao ver-te
escorrer nas árvores
vestir as vitrines dirigir meus transportes
homenageio você em mim
encurto o tempo
trago o espaço dos corpos
(que nos separam)
para dentro de mim
ainda não sabes
onde moro em você
nas esquinas dos corações
onde espreito tuas batidas
respiro teu ritmo da noite
te embrulho hoje a lua
presenteio em homenagem
da falta que sinto
do cheiro da tua vaidade
ainda não sabes
aí de longe
que aqui está
que não sai de mim
não vai
ainda não sei
o tamanho desse negócio
uma ponte infinita
sem começo nem fim
fincada nessas margens -
você
mim
segunda-feira, 6 de junho de 2011
treco
ouço ecos
corações ocos
feito ovos
depois
de omeletada
ecoam
destoam
em manada
peleosso
e mais nada
segunda-feira, 23 de maio de 2011
mulher de mim
sobre ser livre
sobre ser sexuada
sobre ter força
sobre transformar a melancolia em poesia
sobre temer
sobre não agüentar
sobre enlouquecer de tanto amar
sobre falar confuso, mas falar
sobre ter coisa na mente
sobre não mentir o que sente
muito bom, melhor mesmo,
melhor que seja na mulher dos outros.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
psico análise
eu colocaria uma boca
no meu inconsciente
instalaria uma corda vocal
e um microfone bem na frente
com ecos no meu coração
para entender de qual substância
é feita meu avesso subterrâneo
minhas sombras subcutâneas
que se recusam a aparecer à luz
mas que mastigam e mascaram
meus porquês, meu vir-a-ser
eu, abandonada à própria sorte
ou ao próprio azar
de nem saber por onde começar
ou ao qual freud perguntar
domingo, 15 de maio de 2011
centro cirúrgico
se suas mãos pudessem
acarinhar meus nervos
por debaixo da pele
por entre o músculo
se mãos apertassem
os átrios do coração
pulsasse sangue
aplacasse coágulos
para grudar a veia
circular o plasma
se mãos amaciassem
o revestimento de alma
da tez da pele
para unificar vísceras
sobre joelhos e pernas
se mãos fincassem
todos os ossos
tanta cartilagem
faria o ombro
suportar o peso
do corpo
todo
e talvez
se morresse
pouco
vive em mim
tem uma poesia zanzando em mim
passeou pela barriga
tênia
solitária
tem uma poesia me transitando
sobe e desce na garganta
perde
dedos
teclas
tem uma poesia comendo em mim
traça aos poucos as cinzas
massas
cerebelos
cabelos
tem uma poesia me bagunçando
cegando os óculos da cara
analfabeta
letrada
canetada
não me permite ler
não me permite escrever
não me permite ser
sem dela saber
o que tem para dizer
tem uma poeta que manda no mim
segunda-feira, 9 de maio de 2011
terça-feira, 3 de maio de 2011
coisas pequeninas
olhadas por uma formiga
odores, calores e Dolores
fazem com que as dores
transformem as flores
um dia-a-dia microscópico
invisível a olho ótico
abre no chão a fenda
enxerga-se o centro da terra
Osama ou Obama
não muda o peso da folha
sobre as costas
sobre um formigo inverno
ou sobre um calor do inferno
terça-feira, 26 de abril de 2011
pé
às dezoito horas
te encontro lá embaixo
do pé de carambola
no topo do barranco
onde fica o pomar
de frutas que despencam
cítricas maduras e cegas
as frutas guardam doces
segredos e insetos
pois todos os beijos
ao longo dos tempos
sobre as folhas secas
perfazem amores
compotas e queijos
manhã
sabe aquela camisola antiga amarela?
sabe quando acordas com brilho nos olhos e remela?
sabe o cabelo remexido?
sabe o cheiro de cama amanhecida?
sabe os pés no chão ensolarado?
sabe um risinho sonado?
sem as máscaras maquiadas
sem esconder lindas feiúras
sem abafar desesperos d’alma
sem acanhar as dúvidas
sem meias
sem meias verdades
sem vestidos inteiros
sem amor trapaceiro
meu coração tão cheio
repousa quente nesse travesseiro
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