segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

CIDADE

a plataforma de minha cartografia íntima,
se faz de atéia e me recolhe em teus buracos tímidos.
abarca meus planos e atrasa minha praia.
em teus trânsitos desumanos me arreia a esperança.

meus lugares, fazeres, quereres e saudades se enraizam em teu solo.
te insisto, mesmo quando impermeável teu asfalto.
afinal acolhe meus subterrâneos infinitos em trilhos, estações e comunicações.

és tão imperfeita e por isso, esnobes, falam de ti.
não te deixam nunca, mas te descuidam sim.
tuas elites confinadas e condominadas te exploram, te secam à luz do dia.
tuas perifas madrugam e te percorrem anônimas e atônitas com o valor de tuas tarifas.

teus meninos se revoltam a cada dia
para te exigir que lhes cumpram os sonhos.
de um caminho menos sem saída, menos abandonado,
aos que transitam amorcegados e desgarrados de tua vida e vora-cidade.

tuas padocas, botecos e PF's,
sempre me nutriram de tão boa gente.
os kilômetros de papo batido me formaram mais que os livros.

tenho tangido forças para te tomar de bicicletas,
para amansar selvagens e teimosos automóveis.
meninas de skate te desafiam e divertem praças e vãos. E vem e vão.

amigos te evadem e outros te tomam de permanente passagem.

para mim tu és mulher.
como sou eu.
uma fusão eu e você. uma grande confusão.
és meu onde. és meu como. és minha gente.

contradita. hoje fica velha e cada dia coisa nova. hoje é você que aniversaria.
preciso dizer de meu orgulho.
pois põe meu coração sempre em barulho.

meus motivos de amor não cabem nesse rascunho.

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