quinta-feira, 30 de abril de 2009

vá borrão, vá até a margem pra ver o que tem,
se no fim do arco-íris as meninas são sereias.
se é que você precisa ser assim.
eu fico por enquanto entre os girassóis do meu jardim.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Recorte de Thaís Figueiredo

Assim, despencante

Eu tenho a parte de um
Hum mil
Agonizante

Sou mais simples que uma ostra
Sou mais cara que um amor-perfeito
Mais profunda que um livro
Mais insone que todos os sonhos
Mais inútil que uma tarde

Desafino, there

já me experimentei coisa
já me experimentei gente
já me dupliquei em mais
já saí e voltei de mim
já não me pertenci
já me agarrei ferrenho
já me vi na lata do lixo
já me vi em berço de ouro
já me envaideci
já me encarneci
já me ri

em ciclo ascendente
espiral amorosa

recoberta deste suor
melodioso
que só assim ouço

algo entre prática lesa e lépida
pra você.
pra mim
nem sempre sou assim
prefiro repouso no jardim

Ode à MACABEA - banda

meu submundo

encontra-se no subsolo da rua augusta

cantando minhas próprias legendas

partilhadas com os melhores homens

cavaleiros, monges e axilas


sempre a tornar-se cada vez mais mundo

nascido do sutil encontro entre:

quatro bocas, um milhão de dentes

ternuras e ranhuras

para fazer possível essa confluência musical dia-lógica

sem qualquer razão

terça-feira, 21 de abril de 2009

Homenagem


Na manhã que se seguiu, vejo folhagens desconhecidas naquela floreira nunca cuidada.
Deixada com sua terra desprezada, dada como morta, incerta, infértil.
Quando alguém noticia que eram folhas, não quaisquer uma, mas de girassol.
No verde central, concentrado de folhas menores, surgem as primeiras colorações amarelas, ainda misturadas às verdes, tímidas, desarranjadas.
Já então vibro com a comprovação do nascimento da flor que segue o sol, aparecida assim sem pai nem mãe, solitária e urbana;
em local tão insólito, concreto; tão floreira de edifício, planejada por alguém de beleza quadrada.
Exibo para outras pessoas, como presente do acaso, do caos, do cosmos, que me mostra, nada mais que ser enorme e flor, seguir a luz e calor à minha janela.
Rego como um ritual diário, que alimenta a ela e a mim, de vida, viço e esperança, de surpresa boa, como remédio cotidiano contra a inércia e o abandono.
Tomo como concretização, como recado, aprendizado, dose de belo amarelo-alaranjado, com folhas-molduras desgrenhadas, humildemente desajeitadas em verde fosco.
Sinto-me o grilo que mora ao lado, alimentando-me dos organismos vivos da interação flor-sol-terra; e só assim poder falar cri-cri-cri.



Dimanche

Queria saber escrever, poder dizer, o que traduz a mim e a você,
expor em silêncio os nossos porquês e a desrazão de ser.
Ando, por saber apenas fazer, em ato heróico,
as coisas engraçadas e escabrosas que procuro dentro e fora da casa.
Coloco o corpo no espaço, com certa ordem, porém em desdestino.
Desenformo meu amor, em forma de gesto, calor, pelas minhas mãos e voz.
Hoje planejo andar, ver e cantar, mesmo que só.
É só assim que sei, antes mesmo de ser alguém.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Pra você

Sou mais simples que uma ostra
Sou mais terna que um champagne
Sou mais cara que um amor-perfeito
Mais profunda que um livro
Mais insone que todos os sonhos
Mais inútil que uma tarde
Mais digna que um pobre gato
Mais sórdida que um seriado
Mais calada que uma alma
Mais inteira mesmo quando caio por descuido
Sou menos eu quando se trata de você.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

JUST ME


sou uma pessoinha que de tão olho

espelho o que há dentro de você


ao ver-se em mim se espantará,

quando então eu permitirei que verse em mim


mas vá devagarinho mocinho

porque apesar de dedeco, sou pequenino

quarta-feira, 8 de abril de 2009

TANTO

Tentei filho

Tentei gato

Tentei cachorro

Tentei adesivo

Tentei namorado

Tentei amigo

Talvez seja minha inesgotável solidão

Tentei andar

Tentei sonhar

Tentei gozar

Tentei entender

Tentei nascer

Tentei esquecer

Talvez seja o inestimável preço por viver

Tentei poesia

Tentei abstrato

Tentei forjado

Tentei pincel

Tentei tocado

Tentei melodia

Talvez seja o tal do inexorável doer

Canso em saber quantas tentativas tenho

Antes ou depois do fim

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Torna-te

Começou assim, devagarzinho, pelo meu dedinho.
Invadiu meus pés, subiu pelas pernas, que endureceram, desesperadas.
Meu tronco, seios, braços e mãos.
Agora os tenho alvos, gélidos neste híbrido morto-vivo.
As costas debaixo do vestido verde claro não dobram mais.
As dobras joelhos e cotovelos ainda articulam, uma parte com outra.
Bem como as dos quadris.
Quando então tu me colocas sentada ou em pé; mas sempre escolhes.
Escuto quão linda eu sou, de tão exato os caquinhos foram colados, de tão perfeitas as curvas, redondos, giros e cores.
Esquecem-me gente de tão coisa que me pareço. De gente faço sentimento, pensamento e falo.
Falo parada, fico com o conforto do não agir, do sem confronto.
Desde anteontem parou no meu pescoço. É de subir.
Cabeça de pessoa, com boca, narinas, orelhas e orifícios. Por enquanto recoberta de pele, quentura e tecitura.
Ainda decido se me resigno ou se sofro, ou se morro antes.
Procuro o Gepeto que me rogou o feitiço ao contrário.
Até lá preparo minha estante, onde moro como coiseira.
Porque desconfio mesmo que até a vida inteira viro de porcelana inteira.
Confiro agora meu sapato, sapato de boneca.

my world

My world is beautiful

Moro aqui e acolá


My world is beautif

Pago bebida barata,

gasto onde urgia.

Urgente eu nascia.


My world is beauti

Minha paisagem é o centro,

mas compartilho o interior da burguesia.

Ode ao anonimato e à alforria.


My world is beaut

Não acompanho a tecnologia,

moro estrangeira, na pátria-tempo que você não entende.

Permaneço no filme antigo,

ao som prosaico da radiola.


My world is (you know)

Espaço de coisa maior do que de gente,

gente desde que coisa. Coisa eminente.


My world

Desodoriza pensamentos que não cabem

Cabo

Assim, despencante


Eu tenho a parte de um

Hum mil

Agonizante


Desafino, there.