só faz sentido escrever se for pra alguém, critério dentro do qual não me enquadro agora. confesso.
em linhas duras digo que você habita o que não sei fazer, o mundo a contemplar, o mar de vazio que jorra de algum lugar.
da vinci não só tinha mil talentos, conhecimentos e intuições, como conseguiu expurgar no mundo.
o que não sei, digo-te, meu interlocutor imaginário.
gosto de imaginar os absurdos que se produzem pela minha cabeça.
o filho que penso em ter sem pai, como o bebê que no meu colo dormia no sonho desta noite.
que um dia vou cantar e cantar.
que estou só, muito só e só assim não sei o que fazer com todo esse tempo que é só meu. pudera eu alguém, como você.
sofro do que imagino que sejas, do fantasma concreto que se torna ao entrar pelos meus portais.
vivo num cinema sem roteiro, quando o centro da cidade está deserto entre às cinco e nove e seis da manhã.
alguma concretude do pão com manteiga que comi hoje me salvou, assim como trabalho.
trabalho pra me salvar. pay the bills, é um mero detalhe.
a água do café que ferve toda manhã faz eu esquecer que o futuro tornou-se presente quando dormi. e que portanto é a hora do plano. plano que já esqueci que nunca tive. fora perdido na primeira curva, deixando cheiro de borracha queimada.
o vazio, eu, você, as contas e o pão (manteiga, não margarina, por favor). é isso que sobra quando passo pela peneira.
da vinci é alma grande, é alma nobre, que consegue não dar vez pra nada disso.
ou então prefiro nascer vaca, como as observei no pasto no último fim de semana. vaca não tem angústia, tenho certeza. pude sentir. talvez o preço da vida lisa pelo pasto seja ter uma alma leiteira. leiteira de humanos, sedentos, mesmo que crescidos esses rebentos.
um restaurante me convida pra jantar, por email. jantar no escuro, sem que eu saiba o que vai entrar pela minha boca. e eu estarei sozinha, sem saber que gosto sentir.
Um comentário:
ah, isso aqui tá muito bom, isto aqui tá bom demais!!!
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