Começou assim, devagarzinho, pelo meu dedinho.
Invadiu meus pés, subiu pelas pernas, que endureceram, desesperadas.
Meu tronco, seios, braços e mãos.
Agora os tenho alvos, gélidos neste híbrido morto-vivo.
As costas debaixo do vestido verde claro não dobram mais.
As dobras joelhos e cotovelos ainda articulam, uma parte com outra.
Bem como as dos quadris.
Quando então tu me colocas sentada ou em pé; mas sempre escolhes.
Escuto quão linda eu sou, de tão exato os caquinhos foram colados, de tão perfeitas as curvas, redondos, giros e cores.
Esquecem-me gente de tão coisa que me pareço. De gente faço sentimento, pensamento e falo.
Falo parada, fico com o conforto do não agir, do sem confronto.
Desde anteontem parou no meu pescoço. É de subir.
Cabeça de pessoa, com boca, narinas, orelhas e orifícios. Por enquanto recoberta de pele, quentura e tecitura.
Ainda decido se me resigno ou se sofro, ou se morro antes.
Procuro o Gepeto que me rogou o feitiço ao contrário.
Até lá preparo minha estante, onde moro como coiseira.
Porque desconfio mesmo que até a vida inteira viro de porcelana inteira.
Confiro agora meu sapato, sapato de boneca.
Um comentário:
dorei, fia de gepeto contrariado!!!
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