domingo, 20 de fevereiro de 2011

por wilson tonon

MINHAS      PELADAS
            
                            PALAVRAS
                  
                                       PENSADAS


PESANDO    NO

                                             NADA

LEVANDO A

                SEM TER

                          SENTIR

                                          SENTEAMO
meu escritório é na rua
o meio-fio onde sento
a mesa é calçada

trabalho de
observar passantes

meus clientes
em pé
nas filas dos cafés
comendo seus filés

amigos de metro
em silêncio
olham as janelas negras
sem paisagem

conversas de banco
rasteiras
barulham
o calor de fevereiro

carros engarrafados
desesperam
os que esperam
sob meu olhar

trocam os clientes
da noite e do dia
pelos cinemas
pelas igrejas

fingem encontros

eventual -
a poesia de um olhar
uma flor desabrochar
um beijo adolescente
um riso incoerente

se remunera
um trabalho
uma alma
se desonera

muso

um mapa perdido
nas terras achadas
do teu corpo

bússolam mapas
das tuas barbas
e me põem
nos caminhos 
dos teus pelos

tateio seus toques
pelos escuros das noites,
onde encontro
o norte,
um leme,
um leste

um farol lunar
hei de seguir

pois farejei um cheiro
da luz de um corpo inteiro

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

di-mensão

o amor
multiplica
cada cm seu
pelas @s
armazenadas
nos ha*
infinitos
de nossos territórios
íntimos

* hectares de afeto

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

roupa íntima ou azul calcinha

as calcinhas, tão monossilábicas, tão dependuradas
num varal móvel de um apartamento imóvel
andavam queixando-se de certa monotonia e solidão,
porque não?

era de se ouvir, baixinhos
seus lamúrios de uma sílaba só

até que cuecas - bem cuecudas,
faceiras de ventos dos pregadores,
deixaram-nas serelepes e políssonas
de tanto que sassaricam em seus ouvidos 
e permitem que roupeiem, enfim, em ombros íntimos                                                                                                

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Armarinho

de quantos fios
se tece uma mulher?
são tantos os filhos
os risos
e as falhas

as dores
embaixo das anáguas
as tranças
por cima do cheiro de flores

um vestido enviezado
labuta alegre
todo dia

uma força
borda as mangas
do algodão
dos teus braços

enquanto a cada minuto
mais uma maria
vem ao mundo
para embelezá-lo
de passamanarias