quarta-feira, 31 de março de 2010

conjuga-me

comeste toda uma constelação de palavras do idiomaterno (e engoliste a mãe também)

moram em ti, em cada prega,
em cada célula de banha,
a se acumular num corpo-envelope
- o próprio corpo cheio de letras,
histórias (sem pé nem cabeça, com começo/meio/fim, e sem fim)-
histórias tuas,
histórias alheias,
emprestadas, roubadas,
imprestáveis

elas se aglutinam, se unem,
se engancham umas às outras
gritam em forma de som,
vomitado pela porta-boca sem parar

meus ouvidos e penicos perdidos - já sem ouvir
ainda tentam acompanhar seus quilômetros discursivos funestos
(esses se fazem para que ninguém os ouça)

acabaste com as palavras do mundo
e as crianças não aprenderam a brincar de falar
- essas então devem ser as últimas palavras

eu prestes a descobrir sua palavra-chave
que cala a porta da tua loucura sem cura
e abre a janela da tua alma - talvez pouca e oca

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