domingo, 31 de agosto de 2008

noite das crianças

gesto torpe
de quem procura nada
e nada nada no oceano do tudo

de tudo tanto que te cansa
criança corre de tanto que esgana
esmorece

ressaca
afasta o exagero do tempo do antes
exaustão com rebordoza e queijo

rio vazio
riso tamanho que dá mar
mar de milágrimas
nem o milagre salva

por isso em coro choro

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Loreta, me oferece essa buceta
Já não seguro a punheta
Não se finja de careta
Sobe logo na lambreta
E vc? Tá olhando o quê xereta?
Boneca, faz cara de sapeca!

mais um diálogo com e por Leandra Niciolli

Parem essa porra de planeta...
Tá difícil respirar... Difícil não chorar...
É bom demais saber que há pelo menos alguém que sabe usar as palavras neste mundo de hipócritas...
Admiro sua coragem de expor tanta sensibilidade.Seja bem-vinda ao submundo da arte de escrever e, principalmente, de compreeender a amplitude das coisas mais ínfimas.
E dói... como dói...



Cibely diz: amém!

reivindica cão

a vida do cão
ensina a falar um belo palavrão
manda um puta que pariuzão
depois de te tornares esse beberrão!

PETIT MORT ET VIE

Na cidade encontrei corpos flutuantes
de olhos vazados e corpos desabitados
Enquanto meu peito flamejante
de corpo desejante e pulsante

A disciplina do desejo
põe o pensamento em movimento
enquanto o fora exige o nada
todos com cara de empilhamento

Assim desejo o tempo todo
quando fome, como
quando tesão, fodo
quando triste, engodo
quando alegre, estorvo

Os conhecidos sumidos
Os amigos ocupados
O calor necessitado
Vira coisa adormecida, que revira na cama
Nunca esquecida

Flor de tulipa, caule rijo, pétala entreaberta
Convida o irremediável instante de encontro
banhado de suor e palavras interrompidas
mecânica poética e frenética do gozo

A vida volta a ser cidade
Felizcidade leve e habitada
resumo anti-poético:
Tava andando na porra da cidade morrendo de fome
Um qualquer me deu um puta prato de macarrão
Entrei, comi, me lambuzei todinha, tava uma delícia
Saí mais gostoso do que entrei
A cidade menos porra
Tinha um vaso de tulipas

antropostalgia poética

Me lembrei de cheiros, vidas, rostos e sons do passado
Quando a leveza embriagava
- nos embriagávamos uns dos outros e das coisas
 

Vida secreta mas à mostra

Me espantei ao ver o tempo passar
Estampas, santas e profanas megeras
povoavam as tardes vazias
cheias de beleza inusitada
Encontros entorpecentes,
compromissos ausentes
 

Revelo meu segredo

Me coloquei naquele lugar para lembrar quem sou
Saber se quero as mesmas velhas coisas


Não sei mais ter ídolos
 

A beleza quando sentida na carne 
não torna mais possível ser eu mesma
Impera que haja a transformação

Meu hoje é fazer legenda de minhas palavras palavras
Se sonoras, poesia
Se superfície, vazias
Se tocam, humildes
Se saltam, nasci


domingo, 24 de agosto de 2008

Eternizo o silêncio das manhãs
o café preto com geléia
a organização das idéias
a tua inscrição no meu coração

O sol que entra fraco pela janela
a lembrança da noite anterior
o livro que me conduz a cantos distantes
meu corpo desfalecido pela cadeira

O lençol ainda quente
a respiração que renova
o pássaro canta
a cena está pronta

congelo-me de prazer

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

zoo

a fúria bestializante me torna um animal
bicho preguiça que ora em mim acorda
leão de guarda vem guardar os seus
urso raivoso melado toma conta
só me resta uivar
uuuuuuuuuuuuuuuu!
tenho pai e mãe foca
meu destino biológico desponta

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

busines

O telefone tá ocupado
pra eu perguntar a pergunta que não quero saber a resposta
porque acho que sobre algumas coisas melhor ficar na dúvida
A máquina também tá ocupada
não posso preencher os espaços de caracteres
com aquilo que não quero ver
O espelho tá quebrado
pra eu encontrar com o homem
que tá todo dia em mim e olha pra mim e diz
O ônibus tá quebrado
que me leva pra lá e pra cá
tô parado, estagnado, no mesmo lugar
Tô com pressa, apesar de ocupado e um tanto avariado
corre filho da puta!

domingo, 17 de agosto de 2008

há palavras bonitas pela forma escrita e pelo fonema
pouco importa o tema
papillon
(fale deliciodamente: papion, capricha na junção do i com o)
não aprendemos a língua, somos a língua
na trama que não pára de tecer

Vice-verso, vide-verso

a noite me acorda ou me segura
em meio a estímulos pouco atraentes e atrapalhamentos de ordem física
sobre a capacidade de amar, a fissura, a falta, o trabalho, minha imagem
fico presa, em espiral, de dentro pra fora de fora pra dentro
tenho sonhos de lembranças com desejos
às vezes pesadelo, às vezes presença
a idéia no futuro não me deixa dormir
e a do passado não me deixa acordar
a obsessão angustia
e a impossibilidade de tê-la é enfadonho
o dia-noite, claro-escuro
faz da vida clarão na escuridão e vice-versa
o cinza é a mistura do preto com branco
reivindicação: deixei espaços, entrelinhas, que não foram respitadas na edição, coloque-as onde achar melhor.

Oração

Dos livros
alguns lidos pela metade

Das poesias
escritas quando inspiradas

Dos amores
eternos enquanto duraram

Dos prazeres
alguns sentidos na carne

Da rotina
às vezes tornada doce

Da cidade
puro deleite poluído

Das alegrias
com intensidades mil

Das dores
inevitavelmente não evitadas

Da vida de menina
sempre garantida a morada

Da bebida
sempre o trago necessário

Do desejo
alguns deles reprimidos

Da terapia
nem tudo foi curado

Dos amigos
o dar e receber aprendidos

Dos risos e gargalhadas
muito bem dados

Do inglês e do francês
frustradamente arranhados

Das músicas
hermetismos de miles

Do dinheiro
algum tostão às vezes sobrado

Do trânsito
horas dispensadas

Da diversão
as melhores sempre inusitadas

Das comidas e sabores
pecado da gula cometido

Do cinema e da arte
pão e circo de necessidade primeira (alimento d'alma)

De almodóvar e kubrick
desesperadamente assistidos

Da saudade
às vezes arrebatadora

Da família
apoio um tanto impreciso

Dos estudos e teorias
poucas explicações

Das angústias
pelo fato de se ser só

Da morte
já mandei esperar

Da vida
sobre ser vivente, sobrevivente

De Deus
deixei logo de acreditar

Amém!
Tô sem tempo para o cinema.
Tô sem tempo para o teatro.
A vida passa muito rápido e o tempo carrega tudo...
Tá tudo carregado, pesado, doído...
Quando penso em fazer alg... viu?
Já veio o tempo e levou tudo... de novo.
Pelo menos ainda tenho:Clarah Averbuck & Ci dançante... heroínas do dia-a-dia.
E assim, a vida volta a ser um real e breve deleite!!!

por Leandra Niciolli

Cibely diz: trata-se de ter amigos....de ter amor....tá aí Lê!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

REIVINDICAÇÃO

ESSE BLOG NÃO TEM RESPEITADO CONFIGURAÇÕES DA MINHA ESCRITA, A LOCALIZAÇÃO QUE EU QUERO DAS PALAVRAS, LETRAS, IMAGENS E DESENHOS QUE FORMO NA CABEÇA E SENSAÇÃO. QUERO LEMBRAR ISSO A MIM MESMA. O MUNDO VIRTUAL É ASSIM, ASSIM COMO O REAL....
NÃO PULA OS ESPAÇOS QUE QUERO MUITAS VEZES
NÃO DEIXA OS VAZIOS QUE PRETENDO
SE UM DIA EU ENCONTRAR O DONO DESSE NEGÓCIO.....

RUA

tenho amor que corre
escorre
é líquido e colore
a vida que não é mais minha
é da cidade dividida e indiscriminada
que arrancou-me a morada
coisa incerta é o contorno
que é certo e vazio
tentativa de encontro
há pessoas e pessoas
o trem é rápido na estação
corre e entra, a porta fecha
o cidadão enlouquece
hoje tá frio

terça-feira, 12 de agosto de 2008

hoje me sinto antiga
nostálgica
talvez triste

incapaz de escrever história
só reedições e palavras soltas

um pouco parada

INTELIGÊNCIA

Deverá ela existir, já que não existe a real razão?
Só entendo que amo, que é enorme, maior que tudo.
MEU PEITO SE EMBARAÇA, DEPOIS, SE DISSOLVE...
Este é o momento que te encontro,
então, talvez um líquido percorresse-me.
Um líquido entorpecedor.
É totalmente sentido, mas sem sentido.
Portanto, o que faço é apenas deixar-me descer por essas águas,
e que as cristalinas águas levem-me no agora, no rio e no sempre.
Parta de onde quiseres partir, do concreto ou do abstrato
e o que for sentido será sempre o mesmo: maravilhosamente sem sentido ++++++++++++++++
A vivência (ou será existência, ou será latência) ultrapassa qualquer longínquo entendimento
(ou será ensinamento, ou será dissernimento).
Nem tente a compreensão do sentido,
tente partir para a compreensão sentida.
que talvez esteja no âmago do sentido.
Mas o que não tem sentido não tem um mero âmago, tem, na sua totalidade indetermindada,
tudo do todo infinito.
ESTE É O TROPEÇO DE MINHA IGNORÂNCIA, QUE CAI PARA TODOS OS LADOS E PENSA.
O EQUILÍBRIO DE MINHA INTELIGÊNCIA NÃO PENSA, AMA.
*escrito aos 18 anos, tomada de amor e de Platão.


cobra

minhoca

sempre tem toca

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"o homem que diz sou não é" - baden powell

sou vil, vilã

sou egoísta, chauvinista, narcisista

sou trôpega, bêbada, estupefada

sou bastarda, embargada, mas emancipada

sou vagarosa, preguiçosa e viçosa

sou luxúria, metonímia, française

faço estúpida, como face ambígua de ser o que se é como não se fosse

quem liga pra isso?

sorriso na cara, se eu contar alguém suporta?

nem eu

(não conta pra ninguém)

"porque quem é mesmo é não sou"

hablando

estoy a descobrir sobre essa coisa de brógui
logo de cara já gosto de poder não colocar maiúscula, porque tenho pregui....
gosto de pular linhas e espaço, fica mais gostoso de ler

como meu drummond tá na gaveta, meu leminski era emprestado
guattari e moreno começados, mas estão dando muito trabalho
ando lendo uns alter bloguis por aí

viciada em internet, a família não entende, nem eu

também não entendi se isso aqui é punheta mental
é diário adolescente reeditado (quase escrevo diarréia, o que pode servir tb)
se é póesia a ser levada a sério

a solidão é aplacada pela busca do interlocutor imaginário

em meio a psicorelatórios e psicoperformances
saindo a da fase oral para a animal
'O “bolo” de gente que se formou carregava consigo as escolhas sociométricas do grupo' - bonito

quando essa porra dá pau, na hora de gozar
fico p*, na fissura
estamos à mercê de uns gloogle sem cara da vida

dá pra ser homem, ou mulher

alguém fala alguma coisa agora!

tô meio clarah averbuck

sábado, 9 de agosto de 2008

urbanóide paranóia paranóis

Pensa num planeta, que quer ser mundo
Imagina o mundo que é a Terra
Um país continental, tropical, fenomenal, sem igual
Gente pobre mais que gente rica
Um pedaço de terra que ocupa quase 3% desse país
Onde concentra o $ desse negócio todo
14 milhão de neguinho nesse mesmo espaço, que chamam de território
O lugar só podia ter nome de santo

Tem dias que esses 14 milhão
(Que sou eu, que não ninguém
Que todo mundo que é igual a mim
Que forma um bolo, chamado todo mundo ninguém-alguém)
Os 14 m... querem andar pelas mesmas 20 ruas
(lugar em linha reta ou curva criado pra boiada passar tudo igual, igual água pelo rio, merda pelo cano)
só que o volume de água/ merda/ pessoa não cabe mais, na rua/ rio/ cano
Porque quando o hómi inventou a rua não sabia que teria tanta gente/ água/ cocô
Aí já viu, entope....

Nesse pedaço de superfície do mundo, que era de terra
Terra que é esponja, de água, de chuva
O hómi passou uma coisa que não deixa a água entrar, como na esponja
Deixou uns buraquinhos não suficientes
Quando chove aumenta o entupimento de circulação
Porque quem mora nesse lugar é viciado em circular
Se não for fica sendo

Lembrando que gente/pessoa é diferente de água/ cocô
Que quando olha pra isso tudo de dentro,
(e não do olho de gente que olha o peixe no aquário)
Se espanta, choca, pede socorro, grita
Porque tá parado, entupido, impossibilidado e perdido na massa todo mundo ninguém
Não dá pra ir nem pra lá nem pra cá
mesmo que queira

"não sou ninguém, sou alguém
como cheguei nisso
como pode ser diferente?"

*relato poético (como ainda consigo?) do alter ego paulista que vos fala sobre o trânsito pós-chuva-fim-da-tarde desta semana. entidade já conhecida dos irmãos conterrâneos.

fruta pão

gosto de toque de cheiro
textura do sabor das flores
cor que avista a pele
enche de água a mão
que abre os olhos com gosto

o azedo que chega aos olhos
mostra a ferida do gosto
que apela pro ventre menina
e amarra as pernas na mão

METAMORFINA

meu Drummond tá na caixa

minhas roupas na mala

minha gata dividida

meu sonho em Paris



minha cidade caótica

meu presente diluído

meu passado em meu peito

meu ingresso desfeito



meu dinheiro nas contas

meus amigos no bar

minha família na sala

meu espremedor, cadê?



ando meio Macabea

chegando no Rio



espero acordar Gregor Samsa

pra como inseto ter o que contar

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

mutação

transformador
transforma a dor
transa a forma de dor
transmuta a dor em flor
transfere à dor cor
traz arte à dor com cor
a arte faz bicho-homem transformaDOR
a dor faz bicho-homem performARTE
presente em forma de flor

terça-feira, 5 de agosto de 2008

língua

"ABRE ASPAS

ESCREVO TODO DIA SOBRE OS OUTROS

ESCREVER É SEM SUJEITO
SUJEITO OCULTO, INDETERMINADO
QUE SUBJULGA, IMPERA

INDICA E APONTA O OBJETO
DIRETO OU INDIRETO

ADJUNTA, ADICIONA
DE MODO, DE FORMA
DE COMO QUISER

PODE VER VERBO
DOER, SENTIR, AMAR

EM TRÂNSITO (TRANSITIVO ENTRE PARÊNTESES)
OU INTRANSIGENTE

ONDE TRANSITA GENTE HÁ LINGUA
A LÍNGUA DÁ SENTIDO A VIDA
QUE DÁ SENTIDO A MORTE

...TRÊS PONTINHOS
FECHA ASPAS"
nessa vida de cidade
de corre com calor
pra poesia só sobra tempo
pra vinhetas

entre o trânsito de rotina
e sala de espera do analista

a patela da faxineira
e a viagem repentina

na próxima encadernação
quero nascer em Praga
com frio e a calma do século passado

quem sabe terei tempo
de narrar maravilhosamente
o homem que vira inseto

penso macro
escrevo micro

e ainda acabou a caneta
bege, morno, insosso, tranqüilo, monótono, submisso, subtraído, tom pastel, civilizado, amedrontado, TV, escamoteio, rivotril, chá de cadeira, funcionário, novela

laranja, apimentado, ácido, dedo de moça, wasabi, almodóvar, revoltado, anarquia, liberdade, verdade, escancarado, verde limão, birita, luz, artista

nasce desse encontro

beleza que se põe à mesa

ode ao ânus ou boca suja

os arrogantes, pretensiosos e sabichões
nasceram com o no lugar da boca


no desfrute da vida (e) privada
alimentam o conteúdo que se instala entre as duas orelhas
para então devida evacuação


quando então tornam o espaço público privado
ou privada


desvie,
cuidado!

domingo, 3 de agosto de 2008

micro posta de blog

posta alguma bosta
que a bosta está posta
posta de bosta

que merda!

PINA BAUSCH

Abaixo as palavras!
escritas, faladas, cantadas....
Ó humanidade que endurece o corpo em movimento conhecido
Sensação adormecida
Sentimento anestesia

Máquina formatada e à serviço
o corpo
não é morada
É
é você
sou eu
podemos nós

o mundo que mostro ao mundo
é falado pelo/ com/ de dentro do corpo

silencia agora a boca
e comece a falar

feche os ouvidos para escutar

EPOPÉIA CARIOCA

Um carioca comum, acorda como num dia qualquer com uma tremenda vontade de comer couve flor. Foi ao mercado Zona Sul e lá encontrou mil frutas e legumes, o que quase o fez desistir da couve flor. Pelo caminho de volta passou pela Floresta da Tijuca quando avista uma chinesa que sedutoramente o convida a um banho de cachoeira. Ele pensa: “eu nasci em Ipanema, sempre freqüentei o Arpoador, com as mulheres lindas... bronzeadas”, mas estava mesmo era “caidaço” pela oriental. Seduzido e excitado deu uma bela comida na japonesa, que nessas alturas tanto faz a nacionalidade. Sabe quem era ela? Fazia parte da banda de uns japas malucos que fazem música brasileira, liderada pelo músico Kasufumi Mikagawa, isso mesmo, caso fume, eu me cagause, ha ha ha, piada péssima mas inevitável. Depois do show levou-a no Nova Capela na Lapa onde comeram rezando bolotas de bacalhau e arroz de brócolis com lula. Difícil mesmo era se comunicarem, mas no que interessa se entendiam bem. Como bom carioca da zona sul, pensou que poderia levá-la a praias diferentes. Foram à Joatinga e à Barra, presenteados com lindos dias azuis. Celeiro dos novos ricos do Rio de Janeiro, Miami é ali! Mas que linda praia, admitamos... Tarde convidativa a um passeio de bicicleta resolveu sozinho voltar à zona sul e andar pelo aterro do Flamengo, já enjoado de comida japonesa. Por falta do que fazer resolveu entrar no MAM e deparou-se com gravuras carioquíssimas sobre os contornos do Rio e de outros lugares do Brasil. A artista é Thereza Miranda. Falando em contornos, quem mesmo os aproveitou foi Niemeyer no MAC de Niterói. Enquadrou todos os cartões postais do Rio na maravilhosa nave flutuante de linhas sensuais, em acervo permanente, que muda de luz com o dia e com a noite. Sabia que lá há muitos amigos. O carioca os encontrou e resolveram ir à Santa Tereza, para onde subiram de bonde, a conjunção que resume o Rio em beleza e degradação, num tempo congelado e atemporal do começo do séc. XX. Opa, surgiu um show no Circo Voador e é pra lá que foram, numa noitada animadérrima. Quando então lembrou que tinha que trabalhar. Quase esquecia....Onde trabalha é em São Paulo, quando tomou a ponte aérea e pensou o quanto lá é uma lugar de gente que às vezes se esquece de se divertir. Sou o carioca protagonista que vos narra esta história do meu alter ego paulista.

SAUDADE

é fiapo de grama no meio do deserto
no calor faz a lembrança da árvore
da sombra que oferece

é assim gosto-cheiro de coisa conhecida
casa de família
bagunça de primo, abraço de irmão

é sensação que acorda
junta o passado no presente

é sensação lá do fundo
que reacende e coloca tudo sobre perdão

dói e afaga
mói e abafa
encolhe e amarga
escorre e aquece

revive e reaviva

gosto de cheiro
cheiro de pele
toque de pelo
voz do apelo