filosofia de boteco
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Porra, Humaniza essa Desgraça!
filosofia de boteco
sábado, 25 de dezembro de 2010
herança
que eu quisesse
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
amor de pelô
eu nem pensava
que eram tão brancas
as tetas pretas
eu pensava
que mais branca
era a carta
que enegreceria
minha alforria
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
farinha de milho
no rádio deve tocar aquela do rei
H2O
gozo transpirado,
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
cheios e receios
e não há nada mais mundano
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
conto sem fada
mas um amor
que preenche
alguns cômodos
e acomoda
incômodos
domingo, 5 de dezembro de 2010
pelos pelos da perna
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
sorvete
gosto de construir
ou quando ficas
bibir la bida
terça-feira, 30 de novembro de 2010
dezembro chove?
terça-feira, 23 de novembro de 2010
oração ao são joão das bolas perdidas
gole
a pequena colher
- com o resto líquido -
descansa sobre a pia
sem pires
passados que te pertenciam
domingo, 21 de novembro de 2010
oxi
misi fi
é muita mandinga trazê ocê pra mim
haja vela vermeia na encruzilhada
num presta enterrá santo antônio
terreiro diz que já não vale mais
caboclo afirma que já pegô catimbó
amor de um
quando não tem dois
não há galo, galinha, ou melaço
que desata todo esse nó!
domingo poesia
será que deixei de nascer de mim?
quando será que o poeta vem?
trabalha em feriado santo?
a palavra brota bruta?
a frase já vem riscada?
neruda escrevia sentado?
drummond batia à máquina?
escrever é do tipo que se aprende?
ou será talento que vem de fábrica?
será que não sou mais eu?
ou torno-me em minhas palavras?
em todo caso assino hoje como Clara.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
post
guardo aqui
sem tirar o pó
um postal
escrito lá
para você
lá de longe
você noutra
eu na tua
nunca leu
nunca viu
nem sabe
nem eu sei
quando foi
que o amor
pelo mapa
se perdeu
um postal
sem endereço
sem leitor
colado agora
no mural
no avesso
só a cola
ninguém vê
teu texto
tuas lágrimas
só vêem
tuas terras
fotografadas
ao longe
numa Itália
poente e só.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Bamba
Sujei no samba meu novo sapato
agora com que cara vou pro trabalho?
Foi muvuca, vuco-vuco, esfrega-esfrega
umas branca
umas preta
uns bamba
Umas geladas, suor, empurra-empurra
uns pisões
uns amassões
uns chacoalha
Foi cantoria, foi roda de causo
tinha amigo, tinha hómi, tinha caso
Pandeiro, surdo,
cuíca e política
Sete corda, atabaque,
Agogô e amor
Ai ai ai quanta euforia.
Se sua sola dissesse,
meu pé nunca esquecia.
e o chefe nem se abatia.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Café e prosa
As quenturas se dividem nas cobertas. Os cheiros se fundem - é você de cheiro de mim.
Os encaixes estabelecidos tornam os dias menos fúteis e os afazeres menos inúteis.
Fase dos olhos que enxergam antes o que a boca não vê durante a conversa.
Cala a língua de gosto insosso quando se dorme um sono de gosto comum.
Os objetos testemunham o balé de corpos que se conhecem mais do que a própria carne.
As falas ecoam os corredores pendurados de neologismos e dialetos de países de um habitante só.
As cadeiras acomodam as dores gastas para que as pernas bailem melhor.
Assim livres chinelem os pés da cozinha para a sala, da sala para o quarto, do quarto para o banheiro, do banho para a vida.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
filhote de peixe
terça-feira, 5 de outubro de 2010
boca do estômago
Estou para abraços, miados e arranhões
Não estou para chatos e bobalhões
Estou para bagunças e confusões
Não estou para fundo falso
Não estou para retrato
Não estou para miséria
Não estou para dieta
Estou para sonhos
Estou para amassos
Estou para poucos
Estou para engodos
Não estou para estar
(crescem proporcionalmente)
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
pelo poro
Conheço seu antebraço
mais do que você pensa
Acordo seus pelos
pelo sabor de uma vida
Inundo sua quarta-feira
pra parar de bobeira
Visto ao contrário a camisa
para ver de perto seus poros
Embalo os cheiros
Envergo as noites
Chovo a cidade
Só pra mostrar que sei
mesmo que só tenha ainda
o sabor do saberei.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
pela pele
Sobre o colo, constelação de pintas
Sobre as ancas, tilintar de quadris
Sob os pés, geografias psicológicas
Sob a cabeça, espremidos pensamentos
Sob a guela, abafadas lutas
Sob o peito, coração líquido
Sob as veias, rios de sonhos
Sobre o mundo, giros.
Sobre corpos, nascem.
domingo, 19 de setembro de 2010
guarda roupa
Etiquetei as letras
Dobrei os discos
Fracionei as blusas
Encabidei vestidos
Sacrifiquei calcinhas
Pendurei as ancas
Troquei as calças
Emaranhei as mangas
Tranquei colares
Misturei os brincos
Vesti as alças.
No armário, ao fundo,
o par de meias ainda me olha.
Não sei mais que verbo andar.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Vinis
Num domingo qualquer de pais e mães, em casas com tempos parados e ares de berço.
Os afetos aqui analógicos, se fixam. Retrocedem a tecnologia.
A cada passo pra frente sinto que posso ir mais e mais pra trás.
Esse é o dia em que a vitrola tocou e retocou as paredes das minhas reprises.
Enquanto permanecem na sala esses homens bases de minhas marquises.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
habeas corpus
sou cúmplice dos nossos nós
sou vítima de nossos próprios réus
sou acusação sempre que fala meu coração.
abro mão de minha defesa:
"meu corpo é testemunha do bem que me faz"
terça-feira, 31 de agosto de 2010
por carolina garrido
vejo os Homens como pequenos insetos
é seu mínimo que conduz meu olhar
prefiro
pessoas com piolhos
vermes
nuvens
uma comunidade dentro de um organismo
é o que desinteressa que me agrada
guenta
e frequenta-me tudo
da cozinha
corte as cebolas
enquanto rego os gerânios
enquanto as famílias se arrebanham
da feira
aperte os tomates
enquanto encaminho as uvas
enquanto se infantam as crianças
do solo
encontre as raízes
enquanto rezo o húmus
enquanto se nutrem os pombos
freqüenta-me o bar
frequenta-me a tempo
a tempo de antes do vento
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
carpir, coser e letrar
com barulhos cheios de avenidas
céus azuis cheios de sóis de inverno
nas faixas meninos de gel e terno
doutores que dissecam de(lírios)
mentes a quem nem podem enganar
galerias dentro de livros-poesia
de recheios de palavras a carpinejar
malas de aviões cumbicos
trens a energia lunar
costureiras de coser os dias
para ao fim ter a semana para entregar
lá no sábado a costura termina
quando tem um povo pronto para serhumanizar
não kai
somos eu, você e nós, dando nó a três
duas vezes ceis são os nós menos três
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
papi
por eu deixar-te ir.
Tenho sempre que lembrar-te,
de tanto amor que me sobra para dar.
Amores estes recheados de gestos do teu jeito de olhar.
Tenho sempre que lembrar-te,
da dureza que ensinaste de como as coisas são.
Hoje são as dores que de alguma maneira sei que não me matarão.
Tenho sempre que lembrar-te,
do mundo como tu me apresentaste.
Mundo de céus azuis, sonhos, bicicletas sem rodinha sobre a grama.
Tenho sempre que lembrar-te,
das etapas que tu comigo comemoraste.
Há escondida alguma certeza de que conseguirei, quase sempre.
Tenho sempre que lembrar-te,
cada casa
cada lágrima
cada saudade
cada lembrança
é um jeito de homenagear-te.
Sempre tenho que lembrar-te,
pois todos os dias no espelho
tu apareces refletido em mim.
domingo, 8 de agosto de 2010
poema provisório
há parques com famílias e crianças
há restaurante e carne à mesa
há bochechas e sorrisos
há pais e há tios
Há no mundo apartamentos com vistas claras
há pôr-do-sol na janela
há jazz na sala de estar
há silêncio a ser ouvido
Há no mundo casas com corpos bem alimentados
há cabelos hidratados
há beijos amorosos
há colos quentes
há uma boa educação
há pro almoço macarrão
Há no mundo kitchinetes no centro
há esquina com botecos
há pivetes engraxates
há dívidas bancárias
há amigos escassos
Há no mundo janelas estreitas
há barulho de carros
há cenário de prédios
há bebida barata
há a mesma comida
há mãe indefinida
Há lugares com corpos que se cruzam
se afagam tão rápido
se doem nas pernas
se cruzam os braços
se abrem os sapatos
Há nesse mundo vai-e-vem
há de onde se vem
há pra onde se vai
há onde existe paz
há quando onde não se há
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
pro almoço uma massa caseira
faz-se em sampa uma terça-feira
há na praça um municipal fechado
sobre os meninos a aurora e o asfalto
sob um mesmo céu acinzentado
nas terras empilham-se os tijolos
e as moças limpam a poeira dos olhos
mas dos pães tiram os miolos
todo dia nasce ela na janela
de feiúra toda bela,
loira
morena
ou toda ruiva como ela
segunda-feira, 26 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
ano do(ído)
se é que eu bem me tenho recordado.
Quase nada comprado,
tudo sempre apertado.
O que se teve foi muito usado,
pagando-se juro pra lá de aumentado.
Tudo o que passou foi suado
foi sofrido
foi chorado
e sorrido.
Todos que passaram foram jurados
amados
surrados
e idos.
Trabalhos bem feitos,
embora mal-pagos.
Tempos preciosos,
ora desperdiçados.
Sobra um safo,
com todos os anos passados,
ao fim do longo ano ido.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
blasé
fique também, caso queira
se ficar, que seja à vontade
use, use a xícara
dessa casa abuse
se quiser se lambuse
se não souber
faça o que quiser
nem ligue, nem tome, nem ame
se for faça certo
peça licensa, avise-me a tempo
de eu me haver com esse negócio que cresce aqui dentro.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
abrobas
tendo como certo o destino em ser grão na água que ferve.
O arroz resignado, entregue a toda sorte de ser o que se é.
As abóboras nunca se sabem doces ou salgadas.
A casa continente desse vapor quente, numa manhã um tanto diferente,
pouco entende sobre sua própria gente.
Dessas gentes que chegam para o almoço, mas se vão no jantar.
terça-feira, 13 de julho de 2010
quando para nós não havia mais baile para dançar.
Tínhamos somente uma história de sempre,
depois descrente, não vi mais semente.
O futuro se tornava hoje a cada manhã,
quando se escorria a esperança no amanhã.
Passava um domingo de chuva, um domingo de sol,
até que a semana se esturricasse no varal.
E se secasse a fronha.
E se fosse a mesa.
E se caísse a folha
de uma vida inteira.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
3 letras
com essa alegria amarela
com essa camisa singela
Não me olhe assim tão insípido
com essa córnea límpida
com esses dedos vívidos
Não me coma com tantos dentes
com essa tez tão contente
com essa fome premente
Não, aqui dentro não podes ver.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
qual, qual é?
qual o problema em colecionar os seus tiques?
qual o problema em querer o sujo do seu all star?
qual o problema em me emaranhar nos teus filmes?
qual o problema em te esperar na sala de estar?
qual o problema em te desejar flores?
qual o problema em ainda te esconder as dores?
qual o problema em te dedicar todos os meus amores?
sem problemas, é só provar!
terça-feira, 29 de junho de 2010
simple heart
domingo, 27 de junho de 2010
que em cada batida arranca-me a luz do dia.
Por simplesmente ter um dia amado e deixado a dúvida.
A verdade que duvida que o amor se foi.
O que sobrou no meio dessas ruas?
Enquanto isso a manhã repassa as geografias percorridas,
em teimosia de uma lembrança secular.
Ensina-me a suportar, ensina-me a ensinar,
esse meu confuso coração a bater sem purular,
como se nunca mais pudesse saber o que é amar.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Anoitece
(versão final musicada por Tamis Parron )
um dia ainda te guardo no armário
um dia ainda te passo a fita
um dia engarrafo teu cheiro
um dia te enrosco na pia
um dia ainda te aqueço no espelho
um dia ainda te tranço as cadeiras
um dia a gente conta os cabelos
um dia a gente ainda se adia
ó, um dia, grandíssimo moço
você, um dia, com olhinhos de tolo
um dia você ainda me chama no escuro
um dia você me apela na noite
a noite que será de todo dia
domingo, 30 de maio de 2010
acontecia na noite - anoitecia
um dia ainda te passo a fita
um dia ainda engarrafo seu cheiro
um dia ainda te enrrosco na pia
um dia ainda te asso no forno
um dia te traço com margarina
um dia, grandissímo bom moço
um dia, você com olhinho de tolo
um dia você ainda me chama no escuro
um dia você me apela na noite
a noite que será todo dia
segunda-feira, 17 de maio de 2010
segunda-poesia
abdusida pela mansidão da noite escura,
trupicando em estrelas despencadas e
em nuvens moribundas esparramadas.
fumaças entre as curvas da esquina
revelaram (com o passar das horas) à primeira fita -
encarnecida, guardando a noite ainda em seus lilases -
o sol, no auge de ser métrico e círculo
quando então ouro e prata se puseram a caminhar
em forças opostas, sem nunca poderem se encontrar,
mesmo que sempre tentados pela tentação de se arruinarem
pelos seus brilhos adversários.
poesia de terça
cama mesa e banho
com você quero
barba cabelo e bigode
com você quero
lavá enxugá e guardá
com você fico
com riso frouxo
perna bamba e
zóio troncho
a alma nua
a boca crua
a carne pura.
nada menos que três,
três beijos
três vidas
três dias sem ver a luz do dia
nós três:
eu
você
e nós, dando nó.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
ocupação
que me desse a vez de passar o dia,
que comesse o passar das horas
remover as rosas mortas dos vasos do tempo
servir beleza aos rapazes dos cafés de paris
e assim esquecesse um pouco da minha alma roubada e cotidiana
terça-feira, 11 de maio de 2010
a lógica de ana, analógica
íamos menos ao analista quando escrevíamos cartas uns aos outros, longas cartas.
um manuscristo é um retratar-se sem rascunho.
não raro (se escritas com talento) as cartas
resultaram em belos livros de correspondências e biografias.
deixe a senha do email no testamento então...
quarta-feira, 5 de maio de 2010
lugarejar
mesmo sem saber muito da natureza falar.
sempre estive nas palavras de todas as esquinas,
mesmo às vezes imersa na fumaça da rua.
sempre estive chatamente na hora marcada,
mesmo defasada pelas noites perdidas.
sempre estive envolta dos objetos vivos,
mesmo que encaixotada numa rotina.
sempre estive nessas letras que me escondem,
mesmo morando dentro de você.
estou sempre aqui onde estou, apesar de você.
domingo, 2 de maio de 2010
cor da tarde
Há o sino que assassina o silêncio e transforma os fluidos em cores suaves.
O livro aberto fala lá para dentro sobre os subúrbios embaixo de nós mesmos.
Por ser só, já matei minha fome de gente e permito que a noite escorra pelo poente.
Primeiro de maio
Houve mentira em primeiro de abriu e quem não viu mentiu.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
tulipa
nos espalhafatamos em vermelho e azul
quarta-feira, 31 de março de 2010
como fui acreditar que com você era possível sem medo sonhar?
como me deixei encontrar em seus braços o fundo do teu olhar?
como lhe fiz o café mesmo sabendo que a manhã não podias adoçar?
como comer a vida sem saber a dor do gosto de experimentar?
conjuga-me
moram em ti, em cada prega,
- o próprio corpo cheio de letras,
histórias tuas,
elas se aglutinam, se unem,
gritam em forma de som,
meus ouvidos e penicos perdidos - já sem ouvir
(esses se fazem para que ninguém os ouça)
acabaste com as palavras do mundo
- essas então devem ser as últimas palavras
eu prestes a descobrir sua palavra-chave
que cala a porta da tua loucura sem cura
e abre a janela da tua alma - talvez pouca e oca
segunda-feira, 29 de março de 2010
repouso
aquele de deixar o corpo repousar, esmorecido
entregar o coração pranteado, no peito conhecido
deixar-se enterrar em braços de canduras e afagos
num envolto quente, de soprar na alma
aguardo aguda a volta de um futuro que ainda não tenho
domingo, 28 de março de 2010
costureira
câmera lenta
repetir outros
encurtar as horas
andar durante o outono, sem a estação mudar
só pra poder reviver, reaver, reparar, reatar
como se tivéssemos tempo de, como num rascunho, poder ensaiar
segunda-feira, 22 de março de 2010
Aquela que prepara o futuro, esse que chega rasgando, sem uma palavra perguntar.
O passado agora, esgarçado pelo tempo, força a costura por onde a agulhar puder entrar,
seja no peito, seja de saia, seja calção, seja ao som samba-canção.
Essa duração líquida mostra onde eu não deveria estar, quando sem ter em que chão pisar me recolho em qualquer lugar.
Continuo, continuo sempre a pulsar...como um coração trôpego, acostumado a lutar.
quarta-feira, 17 de março de 2010
quero-quero
ESTEIO
Os ossos a chacoalhar, como precussores do que as mãos têm a soar, atravessam o campo de mansidão.
Perdi a mão, que agora deve estar lá pelo lugar dos pés. Juntos, andam a esmo.
Quando pousar, te espero para arrumar a casa. Não sei por onde entra, nem por onde sai.
Onqotô aqui no meio? Toda cheia de carne e olhos, vejo a luz d'ouro sobre o centeio.
Faço um lamento baixinho, com cordas de aço e vozes de fado.
Contínua e ibérica, aqui mesmo na américa, sinto a mutação de grãos sem terra.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
sobre corpos, viveres e a invenção do tempo
Dancei todos os sonhos para dentro dos livros comuns.
Engarrafei as vontades que conheço e não conheço junto às uvas suas
- essas que nunca envelheceram.
Vesti as melhores noites nas roupas desnudas das tuas bundas.
Ouvi os primeiros cabelos brancos enquanto a coberta dormia.
Li alto sem que você escutasse os contos que minha cabeça produzia.
As rugas cravavam nessa terra nosso caminho - agora banido.
O sapato vermelho ainda calça minha sede de viver,
só que num mundo quadrado e vazio.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Ontogênese
com capacidade de mobilidade espacial,
perenidade temporal e adaptação funcional.
Um ser bípede, mamífero,
de gênero feminino,
corporificado em formas e sensações visíveis e não visíveis.
Imerso num mundo de símbolos aleatórios e caóticos
que mediam, mas em nada remediam.
A vida mesmo é medida pela quantidade de arrepios,
a evolução dos suspiros
e o alcance dos sonhos.
(Esse versa a versão científica de mim).
sábado, 30 de janeiro de 2010
Idos vinhos
Aprendo com o acompanhar lento das taças a amontoar.
Essas mesmas que ouvidos hinos os vinhos vieram a soar.
A presença quente surge de repente e depois se faz carne.
Quando olho o olho sinto um cheiro de braço forte.
Enquanto os livros nos olham, saltam palavras de delicadeza.
Eu me esvaio em prosa pela mesa. Em pedaços e inteira.
Filogênese
Multiplicam as multidões de bocas ocas.
As narinas, por assim terem nascido, têm uma a outra.
Os olhos ouvem, sempre que podem, juntos.
Um pé fincado na incongruência e outro na incerteza.
Bem vindo ao reino.
Humano.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
De que minha juventude transita rumo ao oceano.
De que minhas costelas grudam na calçada.
De que a inocência é um cavalo manco.
De que o fogo se apaga antes mesmo do vento.
De que a luz ilumina partes do que não se vê.
De que o encontro falseia com astúcia o que se quer minguar.
Mas a certeza de que a lua vem me olhar, me faz viva em qualquer lugar.